domingo, 19 de julho de 2009

Patrimônio definha na Mata Norte

Passados seis anos de sua reforma, o Engenho Poço Comprido, localizado no município de Vicência, a 110 km do Recife, na Mata Norte, já apresenta problemas estruturais. Uma das colunas de sustentação da moita, local usado para a moagem da cana-deaçúcar, desabou.

Os cupins também tomam conta das vigas de madeira que sustentam o telhado da casa grande, que tem 500 caibros roliços de um tipo de madeira encontrado na Mata Atlântica. O engenho é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Pernambuco e, por isso, foi restaurado pelo governo do estado, que investiu quase R$ 1,5 millhão na obra da edificação. Aberto à visitação desde junho de 2004, o Poço Comprido é único exemplar remanescente do século 18 no estado. No local foi realizada a última reunião do conselho do governo da Confederação do Equador, em 1825, com a participação de Frei Caneca, um dos líderes da revolução pernambucana.



Localizado no alto de uma colina no Valedo Siriji, o engenho possui uma construção simples, sem luxo ou riqueza, típica da arquitetura rural canavieira. A área protegida pelo patrimônio da União corresponde a dois hectares, onde estão abrigados a fábrica, a casa grande, a capela e o auditório, num galpão do século passado. Embora tenha importância histórica, o local não vem recebendo o cuidado que merecia. Quem se arrisca a entrar na casa-grande, por exemplo, precisa estar preparado para enfrentar os morcegos. Eles se escondem na escuridão do imóvel que vive praticamente com as portas e janelas fechadas. O cheiro de mofo também não é nada convidativo. A moita, onde era produzido o açúcar, está cheia de lixo e com as paredes rabiscadas e o reboco destruído. Algumas das pedras usadas para substituir a calçada estão soltas. O telhado da antiga vacaria, que após a reforma passou a abrigar o auditório Frei Caneca, está infestado de cupins e o piso de acesso à escadaria principal está caindo.



Na capela, única da região a possuir um corredor interno de comunicação com a casa grande, que evitava o contato direto entre senhores de engenho e escravos, também está com o telhado contaminado por cupins. Após a reforma, nunca mais foram realizadas missas. A falta de conservação adequada é visível nos quatro cantos e há, inclusive, mato saindo de algumas partes do telhado. A estrebaria, local que abrigava os animais, também está com o teto desabando. A casa-grande e a capela estão caiadas apenas na parte da frente. A pintura foi realizada às pressas no fim do mês passado por ocasião da inauguração do local como Ponto de Cultura, programa mantido pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).



Tratamento - O engenho pertence à Usina Laranjeiras, que, há nove anos, cedeu as terras tombadas à Associação dos Filhos e Amigos de Vicência (Afav), responsável atualmente pela administração e gerenciamento dos imóveis. Segundo a representante legal da Afav, Joana D´Arc Ribeiro de Souza Arruda Andrade, o Iphan já foi comunicado dos problemas estruturais ocorridos no engenho. "A queda da coluna da moita decorreu de uma calha deixada na época da reforma. Ela não suportou a quantidade de chuva que caiu nos últimos dias", explicou. Quanto aos cupins, Joana D´Arc esclareceu que a entidade não tem como arcar com as despesas para exterminar o inseto. "Também já avisamos ao Iphan", disse. Segundo ela, a última dedetização na casa-grande e na capela foi realizada em 2005. "Usamos dois tipos de veneno específicos para o tratamento da madeira do telhado", comentou. Mas os cupins migraram para o telhado a partir de restos de tábuas da obra de restauração que ficaram no térreo da casa grande.



A representante da associação informou ainda que já reivindicou ao Iphan que o engenho seja cercado. "Isso facilitaria mais o controle do acesso", defendeu Joana D´Arc. Segundo ela, o engenho se mantém apenas com dois salários mínimos provenientes de parcerias. "Uma delas é com a Cachaçaria Carvalheira que coloca a foto do Poço Comprido nos rótulos de suas bebidas. O outro vem da Usina Laranjeiras", disse Joana. Com o dinheiro, a Afav paga os funcionários que trabalham na limpeza. Para incrementar a renda, a associação quer movimentar mais o lugar. "Estamos agendando visitas de escolas públicas e grupos de turistas que queiram conhecer a região. Afinal, o engenho faz parte da rota do maracatu", destacou



Joana que sonha que o engenho venha a ser autosustentável.



Diário de Pernambuco

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